sexta-feira, janeiro 27, 2006

Fernando Pessoa



Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De, que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés
–O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma...

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Página em construção


Deus deixou várias coisas para terminar, de modo que o homem possa exercer suas habilidades.
Deixou a eletricidade na nuvem e o óleo no fundo da terra.
Criou os rios sem pontes, as florestas sem estradas, os campos sem casas.
Deixou as pinturas do lado de fora dos quadros, os sentimentos para serem descritos, as montanhas para serem conquistadas, os problemas para serem resolvidos.
Deus deixou várias coisas para terminar, de modo que o homem possa compartilhar a alegria da criação.

(Paulo Coelho)

Tela de Miró

domingo, janeiro 22, 2006

Amor de índio

Tudo que move é sagrado
e remove as montanhas
com todo o cuidado, meu amor.
Enquanto a chama arder
todo dia te ver passar
tudo viver a teu lado
com arco da promessa
do azul pintado, pra durar.
Abelha fazendo o mel
vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu
O pedido que se pensou
O destino que se cumpriu
de sentir seu calor
e ser todo
Todo dia é de viver
para ser o que for
e ser tudo

Sim, todo amor é sagrado
e o fruto do trabalho é mais que sagrado, meu amor.
A massa que faz o pão
vale a luz do teu suor
Lembra que o sono é sagrado
e alimenta de horizontes
o tempo acordado, de viver.
No inverno te proteger, no verão sair pra pescar
no outono te conheçer, primavera poder gostar
no estio me derreter
pra na chuva dançar e andar junto
O destino que se cumpriu de sentir seu calor e ser tudo.


(Beto Guedes)

A um passarinho

Para que vieste
na minha janela
meter o nariz?
Se foi por um verso
não sou mais poeta
ando tão feliz!
Se é para uma prosa
não sou Anchieta
nem venho de Assis

Deixa-te de história
Some-te daqui!
(Vinícius de Moraes)

Como a floresta secular



Como a floresta secular, sombria,
Virgem do passo humano e do machado,
Onde apenas, horrendo, ecoa o brado
Do tigre, e cuja agreste ramaria

Não atravessa nunca a luz do dia,
Assim também, da luz do amor privado,
Tinhas o coração ermo e fechado,
Como a floresta secular, sombria...

Hoje, entre os ramos, a canção sonora
Soltam festivamente os passarinhos.
Tinge o cimo das árvores a aurora...

Palpitam flores, estremecem ninhos, . .
E o sol do amor, que não entrava outrora,
Entra dourando a areia dos caminhos.
(Olavo Bilac)

Fluindo com o rio

Cezanne

A ordem universal das coisas não deixa nada de fora.
Se eu estiver em sintonia com o Deus do meu entendimento, minha serenidade, como a água, se espalhará em todas as direções.
Aquelas situações e relações para as quais não parecia haver esperança alguma não me parecem mais desesperadas.
Usarei uma abordagem cheia de mansidão, que resulta da tranqüilidade e da sinceridade.
Quando eu estiver pronto, as respostas àquilo que eu tenho de melhor em mim irão brotar, como se viessem de um rio até o ponto onde estou.
Serei encontrado flutuando ao sabor da correnteza do rio do desconhecido, e abandonarei para sempre o intuito de nadar contra a corrente.
(O Tao da Cura - Jim McGregor)

Brincar de viver


Quem me chamou
E vai querer voltar pro ninho
E redescobrir seu lugar
Pra retornar
E enfrentar o dia-a-dia
Reaprender a sonhar
Você verá que é mesmo assim,
que a história não tem fim
Continua sempre que você responde sim à sua imaginação
A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não
Você verá que a emoção começa agora
Agora é brincar de viver
E não esquecer, ninguém é o centro do universo
Que assim é maior o prazer
Eu desejo amar todos que eu cruzar pelo meu caminho
Como eu sou feliz, eu quero ver feliz
quem andar comigo
(Guilherme Arantes)