quarta-feira, março 22, 2006

Reinvenção



A vida só é possível
reinventada.
Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vêm de fundas piscinas
de ilusionismo... – mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida, a vida
só é possível reinventada.
Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
Cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço...
Só – no tempo equilibrada,
Desprendo-me do balanço
Que além do tempo me leva.
Só – na treva, fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida
a vida só é possível
reinventada.

(Cecília Meireles)

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